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O Som das Imagens

Foto do escritor: Matheus MagreMatheus Magre


O professor Antônio Carlos fala sobre os equipamentos de áudio a serem usados

O “audio” em audiovisual, tende a ser esquecido e ignorado por muitos espectadores. Comenta-se sempre, a fotografia: as cores do filme, ou a bela e viva a imagem. Entretanto, o som, tem importância tão grande para a composição do filme, senão maior. É muito mais fácil assistir uma obra com uma imagem ruim e belo som, do que o contrário. Torna-se muito mais difícil e desagradável. O problema do som, é um que permeia muitas produções brasileiras, desde as primeiras gravações no país, e um dos principais causadores de tirar a “imersão” do público.


Durante o período da manhã, no dia 14 de setembro, a turma de Direção Audiovisual(DAV), teve a presença do professor Antônio Carlos, técnico e operador de som com mais de dez anos de experiência na área. O ensino foi voltado, principalmente, para dois aspectos: o primeiro deles, sobre a importância do áudio como elemento constitutivo da cena. Estética não é somente fotografia. Se uma cena se passa na rua, é um tanto irreal para o espectador que não haja o barulho de cães, ou do trânsito, ou até do bate-papo entre pessoas. Utilizar esses elementos garantem, uma verossimilhança ao filme, e permitem ao público identificar aquele cenário como um lugar que pode ser real. E não uma imagem “dura”. Seguindo essa linha, o professor propôs uma dinâmica com os alunos, de perceber os sons da sala onde eles estavam. Aos poucos, eles identificaram, o som do ar condicionado, de canetas escrevendo, ou que as cadeiras faziam no chão. O próprio silêncio, é elemento que compõe a imagem e o som. Pense em uma música, por exemplo, que possui momentos de pausa onde o som para: isso não significa que a música acabou. O silêncio é tão parte dela como o próprio som. Isso serviu para mostrar, de modo geral, como o som trabalha junto da fotografia para criar o universo do filme, e como o áudio em “audiovisual”, não está restrito apenas à cenas de diálogo.


O segundo aspecto da aula, foi a decupagem técnica de um dos roteiros, do ponto de vista de um operador de som. Isso significa que, os alunos escolheram, dos cinco roteiros, o de “A Promessa”, para analisar como fariam a captação de som. Todos os grupos terão, no dia de filmagem, equipamentos disponibilizados pelo CTAV, parte da Secretaria do Audiovisual ligada ao SECult e administrada pelo Ministério da Cidadania, para seu uso. A partir disso, a decupagem voltou-se a estudar a descrição de cenas do texto e preencher lacunas: “quais os sons desse ambiente?”. Se o roteiro não especifica, o diretor determina quais serão. Ele também determina se, os áudios de fundo da cena serão incluídos na pós-produção, ou seja, a edição do filme, ou se eles serão captados durante a própria filmagem, algo que não é muito comum pois pode oferecer uma qualidade reduzida. O trabalho do operador de som é de, não só priorizar o diálogo, como defendê-lo, de todos os outros sons periféricos. Quanto ao diretor, o filme é fruto de sua interpretação pessoal do texto, e ele dá o veredito final. No audiovisual, existe o foley, ou seja, consiste na criação de sons para serem incluídos no filme, durante a pós-produção. Por meio dessa técnica é possível, reproduzir ou criar sons que não ficariam tão bons na gravação, tal como elaborar efeitos sonoros, como socos, toques de celular, ou passos.


Atores e diretores se encontram para discutir os curtas e fazerem ensaios

Por outro lado, a aula de Interpretação para Produções Audiovisuais(IPA), seguiu um caminho parecido com a última: o foco, foi na preparação de atores para os curtas que serão realizados. O assistente do curso de direção, Fernando Barcellos, deu dicas para os atores e cineastas. Para isso, cada grupo chegou em um horário pré-estabelecido, e realizaram ensaios de cenas determinadas como “complexas”, tal como realizaram um debate com os diretores e roteiristas de cada filme.


Ensaios são fundamentais para qualquer filme. É nessa etapa que atores podem esclarecer e reparar mal entendidos vindos do roteiro, e também, de aprofundarem a criação de seus personagens. Os filmes, normalmente, precisam encaixar em certos limites de duração, para serem terminados de acordo com orçamento e cronograma, ou comercializados com sucesso. Muita coisa é pensada previamente, para os personagens, que acaba não entrando no roteiro, e que precisa ser resgatada para auxiliar o ator na construção de seu personagem. E quando esse aprofundamento não é pensado de antemão, o ator geralmente faz sua própria pesquisa sobre o personagem, visando entender ele como um ser humano real, e criando uma história de vida e trejeitos para ele, que serão discutidos com o diretor. As vezes, uma fala só já dá tanta profundidade a um personagem, que torna ele digno de um filme próprio. Criar subtexto para o personagem é algo que permite os realizadores encontrarem propósito no mesmo. O ensaio permite também, perceber quando uma palavra não cabe na boca: um texto pode ser belíssimo quando lido, mas desconjuntado quando dito em voz alta. Às vezes, é necessário trocar, fazer mudanças, desconstruir a fala, para tornar ela mais fluida aos ouvidos.


Cineastas elaboram um set de filmagem

Durante a aula da tarde na turma de DAV, os alunos tiveram novamente a presença da professora Luciana Bezerra, uma das diretoras em "Cinco Vezes Favela - Agora Por Nós Mesmos". A aula foi focada em imaginar e "construir" um set de filmagens imaginário na sala: uma vassoura era o microfone, realizadores se agrupavam para suas posições. Durante uma filmagem, tempo literalmente é dinheiro. Portanto, a equipe precisa otimizar ao máximo suas funções, e trabalhar contra o relógio para finalizar seu produto. Com isso, todos precisam chegar sabendo exatamente o que precisam fazer: por isso cinema é empolgante e também apavorante. É um grande desafio nas mãos de cineastas, enquanto buscam conciliar sua visão artística com os recursos disponíveis. Portanto, o exercício de imaginar um set de filmagem não é loucura: mas um estudo do próprio processo de fazer um filme.


Cinema e televisão são grandes mentiras. Os realizadores trabalham em prol dessa mentira, por ser algo apaixonante. É uma arte que trabalha e mexe, com os sentidos. Cineastas amplificam, esses sentidos e sensações, na busca de criar algo que marque quem assiste. Diretores, roteiristas, fotógrafos, figurinistas, atores, captadores de som: todos eles trabalham para estarem na mesma página; em harmonia e coesão do filme como um todo. Por isso, é importante o diálogo, a pontualidade nas filmagens, a composição da imagem, e a criação de um espaço onde todos sintam que podem contribuir. Cinema é pra ser feito com alegria. Ser feliz fazendo o filme e se sentir realizado ao vê-lo terminado.

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