
Sinergia é uma palavra que significa cooperação: o trabalho em grupo a fim de chegar a um objetivo em comum. Poucos trabalhos são tão dependentes do auxílio entre as partes como o cinema. Direção geral, fotografia, arte, som, montagem: se um departamento não estiver bem comunicado um com o outro, o filme se torna uma espécie de criatura de Frankenstein: algo disforme, sem equilíbrio e remendado. Quando essas partes se comunicam bem, o filme se torna um corpo verdadeiramente vivo.
A aula de Direção para o Audiovisual (DAV), do dia 24 de agosto, foi marcada pelo aprofundamento dessa sinergia, sob a visão da direção de arte. No cinema, a arte é composta pela maquiagem, figurinos e cenografia: ou seja, os elementos que criam o mundo que os personagens habitam. E esse é um olhar simplório, pois a arte é muito mais que isso. Por exemplo, pensar a arte sem levar em consideração a fotografia ou, até mesmo a música, seria loucura: todos esses elementos criam a estética e o clima que o filme busca transmitir: como conseqüência, esses elementos são responsáveis por causar uma emoção no espectador. O professor Oswaldo Eduardo Lioi, diretor de arte e cineasta, tendo trabalhado em filmes como “A Família Dionti”, “Lua de Cristal”, “Os Fantasmas Trapalhões” e “Sonhos e Desejos”, transmitiu seus conhecimentos aos alunos, por meio de debates e filmes, ilustrando esses pontos.

Os grupos de jovens cineastas apresentaram suas idéias para o visual de seus filmes, a partir do roteiro que haviam escrito, focando principalmente na paleta de cores: o que melhor transmitia a emoção e sensação do texto. Seja com cores fortes e vibrantes, ou cores chapadas, o uso da paleta auxilia a contar uma história: por exemplo, ao usar o amarelo para representar uma situação ruim, o espectador pode imediatamente interpretar a cor como um sinal de mau presságio ou representativa do vilão. E a cooperação entre a direção de arte com a música, ou a fotografia, estabelece um senso estético único, e rapidamente reconhecível: algo que só poderia ter saído desse filme.
A poucos metros da sala de DAV, acontecia a aula de Interpretação para o Audiovisual (IPA), com o professor Julio Adrião, ganhador do prêmio Shell, e diretor de espetáculos como “Roda Saia, Gira Vida”. Veterano do teatro e nada estranho à televisão, Júlio ficou impressionado com a estrutura e a elaboração dos cursos simultâneos, elaborados na Zona Norte do Rio: algo que nunca havia sido arriscado, dessa forma, antes.
Júlio começou sua aula abordando as diferenças entre cinema, televisão e teatro, a partir de suas próprias vivências, gerando uma reflexão sobre o ofício do ator e seu lugar: a importância da generosidade para que o espetáculo aconteça, e o uso do corpo para contar a narrativa. O movimento pode dar a impressão e a idéia sobre o que a cena se trata, por isso é importante que o ator possa, só pelo corpo, criar e transmitir para o espectador, exatamente o que a cena trata.

Como em todas as aulas de IPA, existe muita natureza prática por trás: os alunos não ficam apenas sentados e fazendo anotações, ou lendo manuais de interpretação. O elemento de “botar a mão na massa” é vital para que atinja um bom resultado. Com a aula de Júlio, não foi diferente, mas nesse caso, houve o trabalho em cima do ator como alguém isolado. Os alunos criaram uma pequena situação: um personagem precisa muito ir ao banheiro, mas algo o impede. A partir disso, grupos elaboraram uma pequena cena: às vezes com narração, e às vezes com quebra de quarta parede. O importante era criar uma ação física e usar o som, para realizar essa cena escatológica. Como resultado, cada cena ficou inteiramente diferente da outra, com exceção da situação. Enquanto um ator situou a cena na academia, outro situou na porta para o Enem.
Esse exercício de criatividade é o que ajuda o ator a se tornar alguém independente, capaz de encorpar e elaborar suas próprias vivências e experiências sensoriais a serviço do texto. Em determinado momento, ele precisa desmontar suas verdades para entrar rumo ao desconhecido. Mesmo com duas aulas completamente diferentes acontecendo em IPA e DAV, podemos observar a generosidade como um dos elementos mais importante na realização de um filme. Consigo mesmo e com a equipe: a generosidade cria a sinergia, e essa, gera o próprio filme.

Comentarios